E cá vai a primeira história desta senhora que contei no meu post anterior.
Ela está mesmo entretida na janela da minha sala a cantar e a bordar um pano de linho, que lhe trouxeram de Portugal, e que ela guarda como se fosse uma reliquia.
Então perguntei-lhe como ia o trabalho, e ela toda orgulhosa mostra-me a delicadeza do seu bordado, mas como é uma senhora que gosta mesmo de falar (e quanto!) então disse-me "o pequeno! (sim, ainda chama-me pequeno), vêm cá que a avó vai te contar como é que nós fazíamos o linho naquela altura:
Tinha-se na fazenda umas ervinhas que cresciam desta altura (ela leva a mão para mostrar algo assim como meio metro o um metro). Quando tinham crescido a essa altura, tirava-se com a foice e punha-se num poço profundo, e deixava-se apodrecer. Logo, tirava-se e o que tinha apodrecido era a casquinha que ia fora, mas para ir fora, primeiro punha-se tudo ao sol a secar, e então, levava-se a duas senhoras bordadeiras do caminho que faziam o trablahinho de pegar nessa data de folhas e batiam com uma máquina que era feita pelas pessoas que sabem disso, e então fazia assim (e mostra-me com as palmas a bater) até separarem o farelo dos fios, que é o linho. Ficavam sempre dois géneros de fios, um mais fino e um mais grosso. O fino era o que se utilizava para fazer camisolas e ceroulas e umas saias que as senhoras levavam por debaixo e que eram à moda; o mais grosso era para os cobertores das camas para as noites que fazia muito frio. Naquela altura não havia caminho para à cidade e não se podia ter outros tecidos com facilidade, por isso o linho era tão estimado. Logo de ter separado os fios mais finos dos mais grossos, havia uma outra senhora que era viuva e morava num palheiro, coitada, era ela que pegava nos fios separados e começava ajunta-los para fazer um grande fio. E era assim: ela pegava num fio e na ponta dum outro, com um bocadinho de cuspe ia juntando e dando voltas até ficarem como se fosse um só. E nós tinha-mos de lhe pagar o seu dinheirinho e além disso era preciso lhe dar uma oferta pelo cuspe que ela gastou! era assim que se fazia naquela altura. Depois a irmã da comadre da (aqui eu perdi-me) era uma tecedeira, e com a sua outra irmã elas teciam que era uma desgraça.. que trabalho que fazer um pano dava! e depois, pegava-se na peça já feita, que era meio escura, e era preciso aclarar e da-lhe essa cor meio castanhinha que o linho têm: Então fazia-se assim: numa panela fervia-se agua com as ervas do caminho, e numa vazia deitava-se estrume das vacas, e acima misturava-se com a água fervida das ervas. Então o pano metia-se la dentro devagarinho, e com as mão ia-se apertando para ele agarrar bem a mistura aquela, e deixava-se de um dia para outro. E depois -mas isto tinha de ser feito no verão- pegava-se no pano e estendia-se todo à frente do sol, ou acima das ervas, e ficava assim até 15 dias. Não podiam estar juntos outros panos por que se não pegava! vigia o tormento que dava!! até havia uma cantadeira que dizíamos quando uma lavor dava muito trabalho, que era: "este trabalho é o tormento do linho" Vê lá! E prontos, o linho estava feito. Só depois o governo começou a levar máquinas para fazer o caminho que era uma boniteza! Nós não sabíamos que o caminho ia chegar à nossa porta! as máquinas cortavam um bocado da montanha e tiravam a terra e metiam lá o chão pisado... e então começaram a vir alguns carros à cavalo da cidade, com coisas novas, e as crianças saiam todas ao caminho para ver a novidade! e por vezes traziam tecidos que eram muito bonitos e assim foi-se deixando de fazer o linho. É uma pena, meu filho.
Fogo grandes voltas dá o linho "Meu pequeno" ahhahahah
ResponderEliminarGrandes Histórias.. literalmente! Guarda religiosioamente essas histórias e essa tua avó, que é de oiro!
Podes creer! eu cá não tinha reparado no baú de histórias a minha disposição! vou-lhe exigir que me conte uma história todas as noites :D
ResponderEliminarIsso! histórias para embalar o "pequeno" kardo!
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