sábado, 24 de abril de 2010

A historia do Linho


E vai a primeira história desta senhora que contei no meu post anterior.

Ela está mesmo entretida na janela da minha sala a cantar e a bordar um pano de linho, que lhe trouxeram de Portugal, e que ela guarda como se fosse uma reliquia.

Então perguntei-lhe como ia o trabalho, e ela toda orgulhosa mostra-me a delicadeza do seu bordado, mas como é uma senhora que gosta mesmo de falar (e quanto!) então disse-me "o pequeno! (sim, ainda chama-me pequeno), vêm que a avó vai te contar como é que nós fazíamos o linho naquela altura:

Tinha-se na fazenda umas ervinhas que cresciam desta altura (ela leva a mão para mostrar algo assim como meio metro o um metro). Quando tinham crescido a essa altura, tirava-se com a foice e punha-se num poço profundo, e deixava-se apodrecer. Logo, tirava-se e o que tinha apodrecido era a casquinha que ia fora, mas para ir fora, primeiro punha-se tudo ao sol a secar, e então, levava-se a duas senhoras bordadeiras do caminho que faziam o trablahinho de pegar nessa data de folhas e batiam com uma máquina que era feita pelas pessoas que sabem disso, e então fazia assim (e mostra-me com as palmas a bater) até separarem o farelo dos fios, que é o linho. Ficavam sempre dois géneros de fios, um mais fino e um mais grosso. O fino era o que se utilizava para fazer camisolas e ceroulas e umas saias que as senhoras levavam por debaixo e que eram à moda; o mais grosso era para os cobertores das camas para as noites que fazia muito frio. Naquela altura não havia caminho para à cidade e não se podia ter outros tecidos com facilidade, por isso o linho era tão estimado. Logo de ter separado os fios mais finos dos mais grossos, havia uma outra senhora que era viuva e morava num palheiro, coitada, era ela que pegava nos fios separados e começava ajunta-los para fazer um grande fio. E era assim: ela pegava num fio e na ponta dum outro, com um bocadinho de cuspe ia juntando e dando voltas até ficarem como se fosse um . E nós tinha-mos de lhe pagar o seu dinheirinho e além disso era preciso lhe dar uma oferta pelo cuspe que ela gastou! era assim que se fazia naquela altura. Depois a irmã da comadre da (aqui eu perdi-me) era uma tecedeira, e com a sua outra irmã elas teciam que era uma desgraça.. que trabalho que fazer um pano dava! e depois, pegava-se na peça feita, que era meio escura, e era preciso aclarar e da-lhe essa cor meio castanhinha que o linho têm: Então fazia-se assim: numa panela fervia-se agua com as ervas do caminho, e numa vazia deitava-se estrume das vacas, e acima misturava-se com a água fervida das ervas. Então o pano metia-se la dentro devagarinho, e com as mão ia-se apertando para ele agarrar bem a mistura aquela, e deixava-se de um dia para outro. E depois -mas isto tinha de ser feito no verão- pegava-se no pano e estendia-se todo à frente do sol, ou acima das ervas, e ficava assim até 15 dias. Não podiam estar juntos outros panos por que se não pegava! vigia o tormento que dava!! até havia uma cantadeira que dizíamos quando uma lavor dava muito trabalho, que era: "este trabalho é o tormento do linho" ! E prontos, o linho estava feito. depois o governo começou a levar máquinas para fazer o caminho que era uma boniteza! Nós não sabíamos que o caminho ia chegar à nossa porta! as máquinas cortavam um bocado da montanha e tiravam a terra e metiam o chão pisado... e então começaram a vir alguns carros à cavalo da cidade, com coisas novas, e as crianças saiam todas ao caminho para ver a novidade! e por vezes traziam tecidos que eram muito bonitos e assim foi-se deixando de fazer o linho. É uma pena, meu filho.

Re-ver os idosos

Esta semana a minha avó vai ficar cá em casa. Ela é uma pessoa com uma bela idade (que não vou revelar, ela não gosta de dizer, mas sim gosta de mostrar que têm uma memória de senhorita nova).

Na sociedade actual é muito ouvido as histórias de velhos abandonados em lares de idosos. É de facto complicado cuidar de um velho: têm sempre as suas manhas, falam quando estamos a ver um filme, não percebem por que estamos sempre frente a um computador etc etc.

Mas a verdade é que têm uma data de histórias que nos ensinam, ainda hoje em dia, a perceber o nosso mundo, a dar valor a coisas que hoje para nós são banais... Eu não sou precisamente o Neto de ouro com paciência ilimitada, mas acho que vou começar a ouvi-la um bocado mais e apontar as belezas que têm para contar.

Eu que fui à Portugal à procura das minhas raízes, tenho cá ao lado uma mulher que é capaz de me contar mais da metade da história.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Roupa vermelha

Nada como uma bela viagem (neste caso, a minha bela viagem à Lisboa) para desanuviar, re-encontrar amigos, resolver algumas questões e claro, utilizar roupa vermelha.

Para um gajo como eu, que desfruta das cores, que têm um casaco amarelo, e que até da aulas de cor numa instituição de desenho venezuelana, é impensável que tenha considerado deixar de usar o vermelho no meu dia a dia, mas é mesmo certo. Desde que cheguei a Caracas, tenho tido sempre o cuidado de não utilizar muito a dita cor, por não querer ser demarcado numa tendência política.....

Não é como vestir de laranja na Madeira, por que acho que ninguém o faz; mas cá sim: funcionários públicos vestem de vermelho; numa manifestação de apoio político, os que estão a favor do partido do governo vestem de vermelho, etc etc.. E eu, reticente a essas ideias, não fazia caso nenhum e punha os meus sapatos vermelhos quando me apetecia; mas com o passar do tempo reparei que as t-shirts vermelhas estavam mais tempo na gaveta do que era habitual.

Claro, nesta viagem a Lisboa levei dois sapatos, um deles, os vermelhos; levei as minhas 2 t-shirts vermelhas que a tempos não usava, e usei e abusei delas com todo o gosto!

Só não me lembrei de uma coisa: Não vestir vermelho no dia do regresso à Caracas! mas esqueci, e levei uma das t-shirts.

Eis que chegado ao aeroporto tropical, pedem-me para abrir as malas, como aliás, pedem a outras pessoas. Os funcionários são até algo brutos connosco, mas quando é o meu turno, a rapariga que me solicita revisar as duas malas faz-lo de forma gentil:

- Poderia fazer o favor de por a sua mala cá encima?
- Claro, com certeza
- O que é que o senhor têm cá dentro?
- Mmm não me lembro bem, acho que roupa, medicamentos e umas prendas
- Muito bem, abra-a se faz o favor (eu abro) o que são estas prendas?
- São umas figuras de Santo António que me encomendaram. Quer que abra?
- Não! deixe estar, feixe a mala. Quer que reviste a outra mala?
- Bem, se você achar, eu abro-a
- Não! deixe estar, fique descansado! vai ter com à sua família e seja bem-vindo!

Upa! o que foi isto? uma alucinação? Ela estava em todo o direito de abrir as malas todas, e se lhe apetecie-se podia ter sido bruta comigo tal e como estava a ser com os outros, mas não..

Se calhar cá não funciona o efeito AXE, mas sim o efeito vermelho! Acho que estive por cá a viver um ano sem aproveitar certas vantagens...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A viagem

Ajá! já reservei o bilhete para visitar-vos (so tenho de paga-lo)
A data da partida de Caracas é 20 Fevereiro e chego lá dia 21. Assim que aproveitei de fazer um calendário para ser muito organizado! cá está no Blog, podem consulta-lo à vontade, e também podem propor datas para actividades interessantes :D (é só mandar um mail ou um postezinho, que eu actualizo, ok?)

Até Já!!!
Kardo

domingo, 13 de setembro de 2009

Mais um tremor de terra (na praia)

Ontem Sábado estava eu numa praia da que já lhes falei: Morrocoy, e tinha ido até uma ilha (Cayo Boca Seca) que faz parte do parque para apanhar solzito antes de começar a dar aulas esta segunda feira.

E não é que por volta das 4 da tarde estávamos nós em pé a falar na areia e sinto nas pernas um ligeiro tremer de terra.. muito ligeiro, e digo "Está a tremer!" e nisto, num instante, sentimos todos uma sacudida bem mais violenta. Sentí como se estivesse a dançar obrigado, com os pés firmes no chão, mas o corpo fazia uma serie de movimentos circulares descontrolados. Era como se a terra fosse uma gigante varinha mágica, ou como aqueles jogos tipo Feira Popular em que um círculo mexe-se de um lado para outro e nos, dentro dele, tentamos procurar equilíbrio. Lembro-me perfeitamente ver as coisas desfocadas, como se o filtro BLUR do photoshop se tivesse activado. É esquisito por que todas as pessoas sentiram o mesmo, assim como todos ouvimos um barulho subterrâneo mesmo de arrepiar.

Duas minhas primas estavam na água naquele momento, e saltamos a correr à sua procura. Elas saíram da água (que nessa ilha é muito calma, sem ondas) e descreveram a sensação como se ela tivesse apanhado vida, e numa fracção de segundo as tivesse puxado como a se afastar da costa, e noutra fracção de segundo, cuspiu-as para a costa.


O epicentro foi mesmo pertinho de onde estávamos, no mar. Assim que avisaram as pessoas perto da costa para se afastar 300 metros dela por causa de prováveis ondas ou de um tsunami; e nos o que podíamos fazer? nada! esperar a que nos viessem buscar, pois esta ilha na realidade é uma pequena porção de areia com árvores que sai das águas, sem nenhuma altura significante. Fiquei surpreendido que, depois do pánico inicial, as pessoas todas na ilha conservaram a serenidade. Às 17 tínhamos combinado com o homem da embarcação para nos vir buscar, e logo quando já chegamos a terra firme, deveria me sentir mas aliviado, mas não foi assim...

A Natureza têm uma força que nos não conseguimos imaginar. Para nós, o chão é a nossa base e a nossa segurança, mas quando ele se mexe desta forma, é então que começamos a pensar na fragilidade de todo o que nos rodeia.

Foi um sábado diferente, aterrador por momentos, mas sempre uma nova experiencia diferente que da muito em que pensar.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

ò Senhor Professor

Agora sim! já me podem chamar de senhor professor, pois a partir do 14 de Setembro começo a dar aulas no Instituto de Diseño de Caracas.

Se consigo tirar um doutoramento, então já posso voltar à Portugal para que me chamem, com propriedade, "Ò senhor dotor!" mas por enquanto fico-me no Senhor Professor.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Um trabalho de telenovela

Depois de um tempo sem encontrar nada de inspiração para postar, os meus amigos já reclamavam. Até o Chico sugeriu-me postar algo sobre o facto de ter trazido só um par de sapatos, em contraste com as tantas calças que trouze vestidas (e ser apanhado no aeroporto de Frankfurt) (ver o meu primeiro post) Era um bom post, de facto.

Mas não, vou comentar antes uma outra coisa! Apareceu-me cá um projecto lindo: um canal da televisão venezuelana vai lanzar uma telenovela, e tenho de preparar uns logotipos para alguns serviços e para alguns profissionais que aparecem no drama! Não posso contar os pormenores de quais serviços por que a telenovela ainda não saiu, mas posso disse-lhes que estou a me divertir inmenso com o projecto. A ideia é que os logos fiquem algo populares, algo chungas, que sejam tal e como na maioria das ruas podem-se ver para serem mais credíveis. Assim que estou a me esforçar para dar a minha parte mais pimbo-pirossa possível :D

Não há nome ainda para a telenovela, mas se quiserem sugerir, mandem ideias! pode ser que até as sugira, e o dia de amanhã possam dizer que um português contribuiu à pimbalhada rosa latinoamericana.